O manguezal é um “ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime de marés. É constituído por espécies lenhosas típicas (angiospermas), além de micro e macroalgas (criptógamas), adaptadas à flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos predominantemente lodosos, com baixos teores de oxigênio”. (Schaeffer-Novelli, 1991). Ocorrem nos encontros de rios, baías e canais de água doce com a água marinha, em geral não se estendendo muito além das proximidades destes reservatórios de água, pois suas espécies dependem dela para sua sobrevivência.
No manguezal surgem características específicas, que vão desde as espécies vegetais que habitam esse espaço às condições de clima e a diversidade de vida animal. Todas essas dinâmicas principais são determinadas pelo regime de marés, que influencia a entrada e a saída de água salgada e doce do local variando ao longo do dia e da noite.
CURIOSIDADE:
Segundo a proposta de lei para o novo Código Florestal Brasileiro, que deve ser aprovado nesse ano, o mangue é definido, no art. 3º, inciso XIII como:
Ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com influência flúvio-marinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina.
Para que este escossistema ocorra é necessário que haja altas temperaturas e grande volume de chuvas (por isso se concentra na zona tropical); que o lugar esteja protegido do impacto direto das marés; que haja aporte de água doce constante (o mangue só surge onde há rios perenes) e que tenha entrada de cunha salina (a água salgada precisa chegar ao lugar mesmo que não fique por lá o tempo todo).
Quanto ao solo há uma discussão se é possível dizer que no mangue há realmente solo ou se seria melhor falar apenas de substrato, pois o que segura a flora é uma camada de sedimentos misturados à muita matéria orgânica, mas sem a organização comum do solo em diferentes horizontes. O mangue se espalha por esse substrato deixando espécies mais tolerantes ao sal próximas ao mar e as menos tolerantes mais perto do continente.
Em relação à fauna encontra-se também uma rica e importante biodiversidade, sendo este ecossistema habitado por aves (garça, colhereiro e aves menores), peixes e invertebrados como o guaiamum, caranguejo típico das zonas de manguezais, cuja extração sustenta muitas famílias que vivem de sua comercialização.
Esta formação litorânea cria uma suave transição entre o oceano e o continente segurando grande quantidade de sedimentos e matéria orgânica em suas raízes, criando assim um ambiente propício para a reprodução de diversas espécies, e é daí que vem sua atribuição de “berçário do mar”.
No Brasil, temos manguezais desde a costa do Amapá, no Extremo Norte do país, até o litoral catarinense, na região Sul. As maiores áreas de manguezais se concentram no Norte. O foco deste trabalho é nos manguezais do litoral Sul do Estado de São Paulo, mais precisamente do manguezal da Ilha do Cardoso, em Cananéia.
PRINCIPAIS ESPÉCIES
A palavra “mangue” se refere às espécies arbóreas típicas que habitam o manguezal, apesar de ser utilizada como sinônimo de “manguezal”. Ou seja, mangue é a planta; manguezal é o ecossistema.
De maneira geral a flora que compõe o mangue é halófita, isto é, tolera a salinidade do entorno, mas não usa esse sal para nada.
Em geral, classifica-se três principais espécies de mangue, as quais se diferenciam principalmente pela forma das raízes ou pelas folhas.
O mangue vermelho, cujas raízes são extensões do caule, é o mais fácil de identificar: é a árvore que nos vem à mente quando se fala em manguezal. Seu nome científico é Rhizophoras mangles (rhiza = raiz; phoros = portador), mas é conhecido por mangue vermelho pela cor do casco quando raspado. Sua folha, assim como a maior parte da flora local, é coriácia, isto é, uma folha mais espessa e lisa que suporta a presença do sal. Geralmente é predominante na franja, no encontro do continente com o oceano.
[Rhizophoras mangles encontradas em campo. Na parte superior da foto observa-se o abrigo meteorológico instalado para a coleta dedados do microclima do manguezal. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]
[Mangue vermelho. É necessário raspar a casca para observar sua coloração avermelhada. Foto de Antonio Afonso, outubro de 2011]
A Avicennia schaueriana, ou o mangue preto, possui folhas esbranquiçadas na parte inferior. Suas raízes são ramificadas a alguns centímetros sob o substrato lodoso e delas saem pneumatóforos esponjosos que realizam as trocas gasosas, os quais parecem grandes palitos saindo do solo.
[Folhas esbranquiçadas. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]
[Tronco de avicennia. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]
O último é o mangue branco, a Laguncularia racemosa, conhecida por ter o pecíolo avermelhado. Suas raízes são muito parecidas com as da Avicennia schaueriana, porém são mais superficiais e os pneumatóforos são menores e mais grossos, embora seja muito difícil diferenciá-los em meio à “lama”.
[Pecíolo vermelho. O pecíolo é essa partezinha que liga a folha ao galho. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]
[Laguncularia racemosa. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]
Os três tipos de mangue se reproduzem através de propágulos, que são como plantinhas quase prontas que bóiam procurando um local seguro para se fixar. Os propágulos podem flutuar por até um ano, no caso das Rhizophoras, por três meses para a Avicennia e por um mês no caso da Laguncularia.
Ao andar pelo mangue é difícil reconhecer as espécies e difícil também fotografá-las de forma que se diferenciem com clareza os mangues. Por isso fizemos um pequeno perfil para tentar tornar essa diferença mais didática:
[Perfil esquemático da vegetação do mangue. Elaborado por Raquel Azevedo]
A Rhizophora mangle é o mangue que tem mais contato com a água salgada, pois suas raízes além de serem aéreas são muito fortes, ajudando na resistência da árvores conforme o movimento da maré.
A Laguncularia racemosa ou mangue branco, foi a árvore mais vista no manguezal da ilha e a Avicennia foi a mais difícil de encontrar. Nos esquemas didáticos a Laguncularia deve surgir logo depois da Rhizophora, para então surgirem as Avicennias que são menos resistentes à salinidade da água, entretanto isso não foi perceptível no campo.
Depois dessas duas espécies mais afastadas do mar, surgia uma vegetação mais arbustiva ou com árvores menores, como o Conocarpus Erectus mais conhecido como Mangue Botão, até a transição para a restinga. Na imagem abaixo é possível perceber como a densidade de vegetação diminuía até a trilha que nos levava ao mangue.
[Área de transição entre o manguezal e a restinga - Mangue Botão. Foto de Andreia Bianchi, outubro de 2011]
Quanto à fauna foi difícil perceber toda a diversidade que há no mangue, especialmente no que toca as aves, pois a densidade da vegetação dificulta a visão (sob o mangue é escuro), além do fato de que a movimentação dos grupos espantava qualquer animal.
O que mais percebemos foi a diversidade de população de caranguejos, especialmente as espécie nas fotografias abaixo.
[Aratu - Aratus pisonii. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]
[Espécie de caranguejo não identificada. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]
[Espécie de caranguejo não identificada. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]
Com essas informações é possível ter a nítida idéia do que pudemos ver em campo. Vale ressaltar que os mangues também têm tipos de flores e frutos, os quais não pudemos ver devido à época em que estivemos na Ilha, e que podem facilitar na identificação de cada tipo.
DADOS DE CLIMA
Nos dias em que estivemos na Ilha foram feitas coletas de dados climáticos por outros grupos. No mangue, utilizamos os dados coletados por Amália Simões Botter, Ivan Zanetti Mota, Matheus Sartori Menegatto, Maria Cecília Manoel, Rita de Cássia de Jesus Almeida e Roger Biganzolli Ferreira. Nossos agradecimentos pelo fornecimento dos dados!
Fizemos uma média dos dados obtidos entre às 9h e às 11h da manhã e das 14 às 16h da tarde para descobrir a temperatura média durante o dia e, depois, a média das 23 às 3h para descobrir a média de temperatura da noite.
Dentro do mangue os registros apontaram para uma média de 26,9ºC durante o dia e de 23,3ºC durante a noite. Na faixa de transição entre o mangue e a restinga a média durante o dia ficou entre 27,3ºC e durante a noite 23,4ºC.
[Gráfico que representa a diferença de temperatura entre o interior do mangue e a faixa de transição entre mangue e restinga. Observa-se que há pouca diferença de temperatura entre essas áreas e a amplitude térmica diária nesses três dias foi pequena. Elaborado por Andreia Bianchi]
Estes valores mostram que apesar da densidade de vegetação mudar bastante as temperaturas não mudam muito. É bom relembrar que no período em que estivemos na ilha, no mês de outubro, o tempo permaneceu nublado e o Sol só apareceu durante alguns momentos do dia.
A umidade relativa, entretanto, se manteve sempre a quase 70% e esse fator nos dava a impressão de que estava muito mais quente do que a realidade.
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