A Ilha do Cardoso é uma ilha continental/litorânea situada no extremo sul do estado de São Paulo, parte do município de Cananéia, uma região conhecida como Vale do Ribeira de Iguape. Atualmente, seu território integra uma área protegida por um decreto estadual, criada em 1962, chamada Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC).
Composta por 225 Km² de costões rochosos, praias, braços de mar, lagunas, restingas, mangues, planícies litorâneas e montanhas cobertas de florestas, a ilha representa um grande patrimônio ambiental preservado, já que o Estado de São Paulo que, segundo dados da SOS Mata Atlântica de 1996, possuia cerca de 80% do território coberto por Mata Atlântica, possui hoje apenas 8% dessa mata original. Essa ilha é separada do continente por um longo e sinuoso canal estuarino, banhada a leste pelo Oceano Atlântico, ao Norte e Noroeste pelas águas da baía de Trapandé, a Oeste pelo canal do Ararapira e ao Sul pela barra do Ararapira.
[Imagem de satélite que demarca a Ilha do Cardoso. Disponibilizado por Brazil Travel]
Atualmente, estão distribuídos em comunidades como Itacuruçá, Marujá, Camboriú, Enseada da Baleia e Foles cerca de 205 famílias de moradores que vivem de atividades pesqueiras (estuarina e costeira) e atividades ligadas ao turismo em diversos tipos de serviços. A população da ilha, segundo Parada (2001), se ocupa com a hospedagem dos turistas que vão para conhecer o local, serviços de alimentos e bebidas, serviços gerais, serviços de transporte e de lazer. A pesca na ilha se dá, principalmente, de maneira artesanal (mais de 60% do total pescado) através de técnicas como o cerco fixo e a rede de costa, e a principal espécie capturada é a Tainha (Mugilidae).
[Imagem de satélite da Ilha do Cardoso. Disponibilizado por Veleiro Planeta Água]
O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA ILHA
O histórico de ocupação da Ilha do Cardoso se inicia a partir da chegada dos colonizadores europeus em 1530 com expedições que procuravam estabelecer povoamentos e demarcar limites para a ocupação portuguesa. Entre as primeiras investidas dos colonizadores, um marco de pedra que delimitava os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas foi colocado no promontório de Itacuruçá, na Ilha do Cardoso e também a fundação da vila de São João Batista de Cananéia e de Iguape, durante o século XVI, caracterizou a região de Cananéia por momentos de prosperidade e importância dentro da realidade do período colonial. A Ilha do Cardoso teve durante o período colonial destaque no contexto regional.
"Nos tempos provinciais era a Ilha do Cardoso um dos lugares mais habitados do município, não só pela fertilidade de suas terras e abundância de peixes em todos os seus recôncavos, rios e parcéis, como também pela facilidade dos meios de transportes, que eram feitos sobre água, em grandes canoas e até mesmo em lanchas e iates. Era então considerada como dos melhores celeiros do município, onde se erguiam as mais prósperas fazendas com seus engenhos de pilar arroz, fábricas de aguardente, olarias e até mesmo um estaleiro de construção naval situado à entrada do canal..." (Almeida, A.P.; 1946).
Assim como nos séculos anteriores, no início do século XX existiam mais pessoas habitando a Ilha do Cardoso do que Cananéia, devido à abundância de peixes e água potável, fertilidade do solo e a riqueza de fauna e flora. Porém, a produção agrícola passou a ter cada vez menos importância para a região, que, com a diminuição da importância do porto de Iguape e de Cananéia, passou a ter menor importância dentro do contexto do estado. Dessa forma, a pesca ganhou expressão como atividade gradativamente introduzida que sei inseria no cotidiano de populações que antes eram de agricultores. A economia familiar dos descendentes de portugueses, índios e negros, comumente denominados "caiçaras" precisou se adaptar ao longo da história de sua ocupação aos diferentes ciclos econômicos que passou a região.
Em 1962 há a criação do Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC) que estabelece uma área onde não poderão ser mantidas atividades como a agricultura e o extrativismo. Em uma ilha onde habitavam cerca de 350 famílias que viviam basicamente da roça e da pesca sazonais em modo de subsistência, logo após a criação do parque uma série de conflitos advindos da legislação criada aconteceu devido às restrições sobre o uso do espaço da ilha. Por esse motivo muitas famílias que viviam basicamente da roça foram expulsas ou saíram da ilha, ou até mantiveram suas atividades sem o conhecimento da administração do Parque Estadual.
Sendo assim, a adaptação da população residente da Ilha do Cardoso (hoje menor em relação a períodos anteriores à criação do parque) aconteceu conforme a legislação de proteção ao local, que acabou por transformá-la em uma atração turística, muito frequentada por pesquisadores e estudantes de ensino médio, possibilitando que a população passasse a ter outras atividades que garantam sua sobrevivência. Sem se adaptar completamente à um novo ciclo econômico, a população dessa região até então economicamente estagnada há muitas décadas pôde se utilizar da conservação como forma de renda a partir de atividades não relacionadas à agricultura e ao extrativismo.
Referências bibliográficas:
SILVA, Viviane Ferreira da, ‘’Pesca e uso comunitário do espaço costeiro na Ilha do Cardoso – Litoral Sul de São Paulo – Brasil’’,
BERNARDI, J. V. E; LANDIM, P. M. B.; BARRETO, C. L.; MONTEIRO, R. C.; Estudo espacial do gradiente de vegetação do Parque Estadual da Ilha do Cardoso; HOLOS Envoinroment, v.5, n.1, 2005
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, ‘’Plano de Manejo – Fase 2. Parque Estadual da Ilha do Cardoso’’, São Paulo, 2002.
QUER SABER MAIS?
Assembléia Legislativa de São Paulo
Associação dos moradores do Marujá
Fundação Florestal
Parque Estadual da Ilha do Cardoso: modelo de Gestão Ambiental
Site oficial do Parque Estadual da Ilha do Cardoso
Parabéns, pessoal. Blog muito legal e bem construído, além de muito útil.
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