Fazer um trabalho de campo exige que se conheça razoavelmente bem o lugar para onde se vai antes da viagem e que se leve todos os materiais necessários para o tempo de permanência desejado. Para auxiliar na preparação para ida à campo, você pode utilizar as dicas abaixo.
Na Ilha do Cardoso
O local onde ficamos é conhecido pelo nome de Marujá e fica na parte mais estreita da ilha. Nas proximidades há várias pousadas pequenas com certa distância entre elas, alguns bares e pontos para comer. Nessa situação, além da mala habitual com seus itens pessoais (que não devem ser esquecidos uma vez que não haverá supermercados nas redondezas para ajudar), é necessário se lembrar de outros detalhes que farão diferença na estadia:
Eletricidade
Não há energia elétrica disponível como na cidade. Há sim lâmpadas nos quartos que podem ser acesas ao anoitecer, mas é só isso. Os chuveiros são a gás e não há tomadas, portanto não leve nada que necessite realmente da energia elétrica, use pilhas e baterias.
Também não há sinal para o funcionamento de celulares, portanto não é necessário se preocupar em como carregá-lo. Avise à família e aos amigos para onde vai, quando volta e sobre as possibilidades de atraso no caso de algum acidente.
Alimentação
Não há uma supermercados na Ilha, portanto leve o que achar necessário. É importante pensar que se o objetivo for conhecer a ilha fazendo trilhas, será preciso levar alimentos fáceis de carregar na mochila como lanches prontos, biscoitos, frutas, barras de cereal, suco de caixinha ou engarrafado, além de garrafas de água.
Além dos alimentos para ir à campo, é necessário pensar nas suas necessidades pessoais enquanto estiver descansando, como no caso de ser vegetariano ou alérgico a algum alimento. Comidas rápidas e fáceis de preparar que não necessitem de geladeira para serem conservadas, cereais, pães e frutas podem ajudar a complementar a alimentação, atentando-se ao tempo de permanência no lugar.
Quando da realização desta viagem, fizemos compras para três dias em um supermercado em Cananéia para que os alimentos fossem apenas preparados na ilha.
Além disso, a comunidade do Marujá conta com alguns restaurantes de comida caseira que também podem ser utilizados.
Vestimenta
Na ilha como um todo há uma sensação de que o ar é mais pesado, portanto mais quente e úmido, o que exige roupas mais leves durante o dia. Entretanto durante a noite a temperatura diminui e roupas mais quentes ou um bom cobertor tornam-se necessários.
Para qualquer dia leve mudas de roupas leves, de roupas quentes, chapéu ou boné e uma capa de chuva, além de roupas de banho se pretender conhecer a praia. Evite usar roupas escuras durante o dia, pois elas esquentam mais que as ropas claras.
Para andar no mangue há outras situações a considerar. Apesar da sensação de temperatura ambiente mais alta, o mangue exige que o corpo esteja razoavelmente coberto em função da quantidade de mosquitos ser grande em número absoluto e em diversidade de espécies, englobando pernilongos, mutucas e borrachudos. Portanto é preciso encontrar uma combinação de roupas adaptadas ao calor, mas que suportem a convivência com a fauna local, como calças de tactel. Outro tópico importante é a quantidade de lama em que consiste o substrato do mangue, logo leve roupas que possam ser sujas e um tênis velho que fique bem preso ao pé e que possa até não ser utilizado nunca mais ou, se possível, galochas.
Para andar na restinga é necessário lembrar que esta é uma vegetação bem densa e que pode facilmente machucar a pele de quem se arriscar a sair da trilha, o que faz parte do trabalho de campo. Portanto, assim como no mangue, pode-se combinar roupas leves, mas que cubram bem a pele, especialmente as pernas, devido às folhas cortantes das bromélias. Para os pés os problemas deixam de ser a lama e passam a ser a vegetação densa e ressequida, que pode cortar, portanto bons tênis são suficientes.
Materiais básicos
Nesse item recomendamos que se leve protetor solar e repelente, mesmo que não se tenha problemas alérgicos ou com o Sol, além de um kit de primeiros socorros que deve incluir alguns esparadrapos, álcool, talas, iodo e o que mais se julgar necessário para possíveis quedas e cortes, em essência.
Para quem é alérgico é necessário incluir ao kit de primeiros socorros alguns comprimidos antialérgicos suficientes para o tempo de permanência em campo e dobrar a quantidade de repelente.
Além disso há outros pequenos itens que costumamos esquecer na organização da viagem, mas que são importantes tanto para a estadia quanto para o próprio trabalho de campo: lanterna à pilha ou dínamo, caderneta de campo e várias canetas e lápis, máquinas fotográficas, binóculo (se pretender observar a fauna, especialmente no caso de aves), algum livro ou guia de campo que ajude no reconhecimento de espécies, uma mochila pequena para levar os materiais à campo e sacos plásticos para proteger os equipamentos da chuva e para levar o lixo quando for embora.
Para entrar no mangue utilizamos também a tabua de marés da Cananéia, a qual contém registros do nível da maré em determinados horários do dia, ajudando a identificar os momentos em que possivelmente o mangue estará cheio ou raso. Entretanto os apontamentos da tabua de marés não são absolutamente infalíveis, portanto nem sempre acontecerá na natureza como está descrito na tábua no dia do trabalho de campo.
Um pequeno registro da previsão do tempo para os dias do campo também serve de ajuda.
Cada trabalho de campo necessita de materiais e equipamentos diferentes dependendo do objetivo do trabalho, do local específico onde será realizado este trabalho e de onde a pessoa ou equipe ficará hospedada (ou mesmo onde montará um acampamento), mas para o caso da Ilha do Cardoso, especificamente para o estudo de mangue e restinga os materiais descritos acima são suficientes para que não se tenha grandes problemas em sua visita à ilha.
Outros Materiais
Se o objetivo da sua viagem é somente o de passear, por prazer ou curiosidade em conhecer o ambiente, basta que se tenha os materiais básicos e que se tome o cuidado de não se afastar muito das trilhas ao adentrar os ecossistemas. Mas, se o seu objetivo é o de fazer algum trabalho para a escola ou faculdade, por exemplo, é necessário que se defina quais são os objetivos específicos e o que é necessário para alcançá-los.
Procurar espécies de caranguejos no manguezal, fazer um zoneamento da restinga de acordo com os estratos, fotografar determinado pássaro que vive na Ilha ou estudar os mangues de acordo com a tolerância a salinidade, por exemplo, são objetivos possíveis que demandariam equipamentos diferentes que precisam ser incluídos na lista. Para avaliar a salinidade é necessário um salinômetro, enquanto procurar espécies de caranguejos requer bons livros de referência assim como imagens e descrições bem feitas, tanto quanto fotografar pássaros necessita de uma câmera fotográfica com resolução razoável.
Neste trabalho, para fazer a parte de caracterização do mangue e da restinga, usamos nossa bibliografia, algumas cadernetas de campo, lápis e máquinas fotográficas. Os livros nos ajudaram a identificar as espécies, as quais foram descritas e fotografadas.
Para obter os dados de clima demonstrados para o mangue a para a restinga os outros grupos usaram alguns equipamentos sobre os quais é bom ter conhecimento.
Luxímetro
Permite captar a intensidade da iluminação solar recebida diretamente ou a iluminação refletida quando virado para o solo. Diversos estratos de vegetação (arbóreo, arbustivo, rasteiro) captam e refletem a energia solar de formas diferentes, adquirindo temperatura e luminosidade diversas e o luxímetro é capaz de captar essa energia.
[ Luxímetro. Foto de Andreia Bianchi ]
Psicrômetro
Consiste em dois termômetros iguais que captam o vapor de água no ar. Umedece-se um dos bulbos (a ponta do termômetro) e espera-se alguns segundos, podendo então conseguir as temperaturas do bulbo seco e do bulbo úmido para encontrar a umidade relativa do ar.
[ Psicrômetro - termômetro à esquerda determina temperatura do ar seco, termômetro à direita determina temperatura do ar úmido. Foto de Andreia Bianchi ]
Consegue captar a velocidade do vento. Funciona como um cata-vento comum, bastando colocá-lo no lugar desejado para que ele comece a girar, necessitando de uma bússola para descobrir qual a direção do vento. Nos mais antigos era necessário marcar o quanto ele havia girado em um minuto e depois fazer as contas, mas os anemômetros digitais já fazem esse serviço facilitando bastante. Há também os anemômetros de estações meteorológicas que são grandes pás a vários metros de altura, mas que cumprem a mesma função.
[ Anemômetro. Foto de Andreia Bianchi ]
No caso de não haver um anemômetro disponível para uso, pode-se ter idéia da velocidade do vento usando uma tabela muito prática que pode ser levada à campo, a Escala de Beaufort:
[ Escala de Beaufort - imagem retirada da aula de ventos e circulações do professor Dr. Emerson Galvani ]
Para as análises feitas no substrato do mangue foi necessário o uso de um equipamento chamado salinômetro.
Para usá-lo, retira-se uma quantia do substrato do mangue, espreme-se essa quantia sobre o salinômetro deixando pingar algumas gotas, de forma que ele possa descobrir a porcentagem de sal na água, a qual aparece no visor.
É importante lembrar que os resultados dependem muito do lugar e do momento em foi tirada a amostra do substrato, devido à altura da maré, à possibilidade de chuva recente, à proximidade do mar ou da "terra firme".
[ Salinômetro - Ana Lúcia espremendo o substrato
para avaliar a salinidade ]
para avaliar a salinidade ]
Além destes, há uma infinidade de instrumentos que ajudam na realização do trabalho de campo, indo desde termômetros de solo aos equipamentos conhecidos como Dataloggers, os quais juntam vários aparelhos em um só, medindo temperatura, pressão atmosférica, umidade relativa, tudo digitalmente.
É importante conhecer esses equipamentos e pensar se algum deles pode contribuir com o seu trabalho de campo.
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