A Restinga



Segundo o IBAMA, “Restingas são ecossistemas costeiros desenvolvidos sob depósitos litorâneos que formam extensas planícies arenosas quaternárias, cuja origem pode ser atribuída a correntes de deriva litorânea, disponibilidade de sedimentos arenosos, flutuação do nível do mar e feições costeiras que propiciem a retenção de sedimentos. O termo restinga é usado para definir ecossistemas costeiros fisicamente determinados pelas condições do solo e pela influência marinha e fluvial.”



CURIOSIDADE:


Segundo a proposta de lei para o novo Código Florestal Brasileiro, que deve ser aprovado nesse ano, a restinga é definida, no art. 3º, inciso XVI como:


Depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, com  cobertura vegetal em mosaico, encontrada em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivo e arbóreo, esse último mais interiorizado.




A restinga, por ser uma formação de ocorrência próxima ao mar, tem sua formação influenciada pela ação dos ventos e das águas marinhas. A fonte das areias e cascalhos que formam as dunas são as rochas emersas e a plataforma continental, faixa de terra submersa existente em todo litoral de todo o continente, que se choca com a água no balançar das ondas. As dunas apresentam formatos diferentes de local para local devido ao vento predominante em cada um dos mesmos, elas podem ser quase imperceptíveis ou apresentar até 10 metros de altura, como em Santa Catarina.

Nesse estudo, abordaremos as feições numeradas de 1 a 8 na figura 1.



[Perfil esquemático das fitofisionomias de Mata Atlântica. Transições vegetacionais desde à praia até a serra: SOUZA, R. G. et. al.; “Restinga” conceitos e empregos do termo no Brasil e implicações na legislação ambiental; Instituto Geológico, São Paulo, 2008]


Uma das características mais visíveis da restinga é a altura de suas espécies, em relação à proximidade com o mar. A vegetação que faz limite com a praia, ainda encontrada na areia, como pode ser visto na figura 2, denomina-se vegetação de praias e dunas onde predominam as espécies gramíneas, com pouca variedade de espécies e solo arenoso pouco consolidado, o que permite elevada absorção de água por se encontrarem espaçados os indivíduos. Nos dias estudados, as flores encontradas eram pequenas, os frutos e as epífitas ausentes. Essa faixa possui uma fauna permanente de insetos, caranguejos e microorganismos.




[Vegetação de praias e dunas. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]



[Centela (Centella asiática). Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]





[Caranguejo encontrado na praia, conhecido como Maria Farinha (Ocypode albicans). Foto de Raquel Azevedo, outubro de 2011]



A formação de restinga apresenta três estratos distintos além das formações associadas. Esses estratos se diferenciam pela altura e pelo tipo de vegetação. O primeiro estrato da restinga no sentido mar-continente denomina-se Restinga Herbácea, com vegetação de pequeno porte ,apresenta grande densidade de espécies vegetais, porém pouca variedade das mesmas, como pode ser visto na figura 3. Existem muitas samambaias, a altura média das espécies é baixa e não há formação de dossel, o solo é arenoso pouco consolidado com presença de serrapilheira. Nos dias que estivemos lá encontramos muitas flores nesse estrato e não encontramos frutos nem epífitas. Nas partes baixas das dunas a vegetação não recebe influência do “spray” marinho (vento vindo do mar para o continente trazendo sal do mar) enquanto nas partes altas a influência é grande.




[Restinga herbácea. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]



[A espécie está sendo identificada por nós e em breve colocaremos seu nome. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]
 

O segundo extrato da restinga visto do mar para o continente é a Restinga Arbustiva, com vegetação de médio porte, onde se encontra maior variedade e densidade de espécies em relação ao primeiro estrato, isso pode ser observado nas figuras 4 e 5. Existem arvores de folhas coreáceas (lisas e sedosas), além de várias espécies de bromélias, a altura média das espécies é também maior que as da restinga herbácea e há presença de dossel e solo arenoso mais consolidado. Nos dias em que estivemos lá encontramos flores pequenas, bastante botões ainda fechados e não encontramos frutos e as epífitas. Vimos diversos pássaros e um gambá morto, o que indica presença de animais.



[Cássio fazendo anotações sobre a restinga arbustiva. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]



[Restinga arbustiva vista de cima. Foto de Andreia Bianchi, outubro de 2011]




[Capororoca branca (Rapanea parvifolia). Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]


Outra formação associada é conhecida como brejo e se localiza nas partes baixas das formações de dunas, ou seja, entre cordões. A vegetação se desenvolve nessas áreas baixas que são inundadas pelo lençol freático e pelas águas pluviais durante metade do ano, nos outros meses, a proximidade da superfície com o lençol freático contribui para que o ambiente permaneça bem úmido. Nos dias estudados, o brejo apresentava alta densidade de espécies, porém pouca variedade destacando-se as gramíneas, como pode ser observado na figura 6, as bromélias e as samambaias; não avistamos flores, mas sim pequenos frutos. O solo dessa região é arenoso mais elaborado que na formação de praias e dunas e apresenta grande camada de matéria orgânica.




[Brejo entre cordões arenosos. Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]






[Cyperus (Cyperus sp). Foto de Gabriel Barreto, outubro de 2011]


O terceiro estrato de restinga no sentido mar-continente é conhecido pelo nome de Restinga Arbórea, com vegetação de grande porte, apresenta as arvores mais altas que nos 2 estratos anteriores e uma densidade de plantas maior, apresenta dossel bem fechado, como pode ser visto na figura 6, e alguns tipos de samambaias. O solo é arenoso já consolidado. No nosso estudo observamos muitas flores pequenas e diversos botões, os frutos estavam pequenos e existiam epífitas, as bromélias e samambaias. Nesse estrato a presença de serrapilhera é visível.




[Restinga arbórea. Foto de Sueli Furlan, outubro de 2011]




[Gabriel Barreto observando o Araçá (Psidium cattleianum), espécie que compõe a restinga arbórea. Foto de Raquel Azevedo, outubro de 2011]



Esse perfil foi produzido durante o trabalho de campo realizado na Ilha do Cardoso, e sistematiza a vegetação da restinga:




[Perfil esquemático representando a restinga arbórea(a), arbustiva(b), herbácea(c) e formação de praias e dunas(c). Elaborado por Raquel Azevedo]



DADOS DE CLIMA


Nos dias em que estivemos na Ilha, foram feitas coletas de dados climáticos por outros grupos. Na restinga, esses dados foram coletados por Alexandre Nunes Calsonari, Denis de Jesus Freitas, Francisco Napolitano Leal, Ricardo Augusto Martins, Ricardo Massaaki Hanashiro, Thiago Boeno Pessoa Ramos e Valeria Pereira de Souza. Nossos agradecimentos pelo fornecimento dos dados!

Fizemos uma média dos dados obtidos entre as 9h e às 11h da manhã e das 14h às 16h da tarde para descobrir a temperatura média durante o dia e, depois, a média das 23h às 3h para descobrir a média de temperatura da noite.

Na Restinga Herbácea, os registros apontam para uma média de 23,8°C durante o dia e de 20,4°C durante a noite. Na Restinga Arbustiva, os registros apontam para uma média de 25,9°C durante o dia e de 19,8°C durante a noite. Na Restinga Arbórea, os registros apontam para uma média de 22,5°C durante o dia e de 20°C durante a noite.


[Gráfico que representa a diferença de temperatura entre os estratos da restinga. Observa-se que há uma pequena diferença de temperatura entre elas, sendo a Restinga Arbustiva a que apresentou a maior amplitude témica nesses três dias. Elaborado por Andreia Bianchi]


Esses valores mostram que, assim como no mangue, as temperaturas da restinga não mudam muito. Vale ressaltar que no período em que estivemos lá, no mês de outubro, o tempo permaneceu nublado e o sol só apareceu durante alguns momentos do dia.

A umidade, entretanto, permaneceu durante os dias que estivemos lá, entre 80% e 98% nos três estratos, o que nos dava a impressão de estar mais quente do que realmente estava.



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